terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Closing the cycle ou: Educação sentimental

 
Julian, Catherine, Phil, Pola, Leslie, eu, Martin, Cho, Laura e Annaluisa

Com quase três meses de Austrália, o que é basicamente metade do tempo que vou passar aqui, já dá pra perceber claramente um ciclo se fechando. E que ciclo! Cheguei aqui completamente inseguro do meu inglês, ao ponto de não conseguir explicar o que queria numa loja de celulares e receber da vendedora um sonora "don't you have any friends here?". Hoje, dou informações em inglês para os transeuntes (adoro essa palavra e não é todo dia que posso usá-la) com relativa facilidade.

A verdade é que vim para esse intercâmbio com muitas expectativas e, principalmente, muita pressa. Pressa de aprender, de conhecer, de mudar hábitos, de ousar mais, fazer mais, viver mais. Me frustrei por diversas vezes e ainda me frustro, porque expectativas específicas estão aí para não serem atendidas. Algumas foram, muitas outras não. O que planejei, a experiência perfeita criada na minha cabeça não aconteceu e provavelmente não vai, mas e quanto ao que eu não esperava? Isso sim, faz toda a diferença.

Aprendi, e muito. Conheci e continuo conhecendo cosias novas todo dia, embora às vezes precise me forçar a abrir os olhos para esse conhecimento e reconhecer a sorte que tenho de estar aqui. Mudei e ousei de maneiras que provavelmente passam longe das mudanças e ousadias que imaginava antes de vir, o que é recompensador de uma forma que nem dá pra explicar. E estou vivendo, o mais intensamente que posso, mas agora com menos pressa. As expectativas, isso sim é difícil de controlar, continuam aqui.


Julian, Fernanda, Vanessa, eu, Jina Laura, Annaluisa e Jorge

Partindo para um lado menos filosófico e mais prático do blog, explico porque me sinto fechando o ciclo: terminei o General English. Pois é, tinha 6 meses pagos para o curso, mas como comecei no pré-avançado (o que foi uma surpresa enorme pra mim, lembram?) e já passei um bom tempo no avançado, não tinha muito mais o que me desafiasse. Por isso, em janeiro mudo de escola (continuo na ACE, ou melhor, Navitas, mas em outros Campus) e começo o curso preparatório do Cambridge, que pelo que dizem é muito mais puxado e demanding (também gosto muito dessa palavra). O novo campus é em Bondi Junction, pertinho de Bondi Beach (oba, praia depois da aula), o que significa o retorno dos meus dias de andar de trem, acordar muito mais cedo do que o horário da aula e por aí vai. Não posso reclamar, mas confesso que vou sentir falta da minha caminhada diária para a escola.


Catherine, Linda, eu, Pierre, Vanessa, Som, Julian, Heedoo e Phil

E vou sentir falta da escola, claro! Na ACE (ops, Navitas!) da City, o clima de despedida sempre se fez presente, com um ou mais colegas indo embora toda sexta-feira, mas dessa vez é diferente: é a minha despedida! Se por um lado a perspectiva de conhecer novas pessoas (e ir para a praia depois da aula) é animadora, por outro já estava acostumado ao ambiente da City. Querendo ou não, nos acostumamos à rotina de transitar pelos três andares da escola, de jogar conversa fora com os conhecidos pelo corredor, de misturar inglês e português com os brasileiros e voltar rapidamente para o inglês quando os professores apareciam e dos clássicos sorteios de chaveiros de coala, canguru e Tim Tams na loteria da quinta-feira.

No meu caso, é a primeira vez que troco também de professor e, devo dizer, o meu era dos melhores! Julian, um australiano pra lá de teatral, desenhista pra lá de controverso (ele desenhava um pato e dizia que era uma casa, e estava completamente convencido disso) e principalmente, ser humano pra lá de excepcional. Sentirei falta de ouvi-lo reclamar dos problemas de casa em tom bom humorado e em seguida pedir desculpas por usar a aula como terapia, das histórias de fantasma na Wynyard Station e nas salas "assombradas" do campus e de seu interminável repertório gestual.


E quanto aos colegas de classe? Eu poderia gastar linhas e mais linhas descrevendo todas as personalidades fascinantes que conheci no General English, e provavelmente farei isso qualquer dia desses, mas que fique registrado que foi um prazer e uma honra passar esse tempo com cada um. Quem me conhece sabe que me apego fácil e realmente acredito que, à sua maneira, cada pessoa que passa pela minha vida faz a diferença. Espero ter feito na delas também!

What happens next?

sábado, 25 de dezembro de 2010

Christmas Reloaded

 
Bruno, Julian, Aeily, Jina, new korenans ob the block, Fernanda,
Jeonghwa, Martin, Phil, Maggie e Roberto

Já fiz um post de natal, mas a menos de 12 horas dele, não resisto à vontade de fazer outro. Porque sou o maior entusiasta do natal, mas ninguém sabe disso.

Adoro as musiquinhas tintilantes de sinos breguinhas (também conhecidas aqui como Christmas Carols) que me causam um sentimento que nem sei explicar o que é.

Adoro a combinação pouco usual de verde e vermelho, os enfeites exagerados, os gorrinhos de papai noel e esse espírito de melancolia que baixa nas pessoas, quer você queira, quer não.

Só não adoro a comida "típica" do natal, que acho bem sem gracinha. Tanto que já passei um natal em casa comendo nuggets enquanto o resto da família se deliciava com igurias como peru, salpicão (perceberam como comida de natal tem nome sujeito a piadinhas?) e arroz com passas (esse não tem piadinha nenhuma, mas é nojento).

Por falar em típico, o nosso tradicional jantar à meia noite não é comum na Austrália. Melhor dizendo, a meia noite do dia 24 pro dia 25 não significa nada pra eles. A celebração mesmo acontece na hora do almoço do dia 25, o que se pensarmos bem, é justamente a nossa meia noite no Brasil. Ou seja, somos tão importantes que eles adiam o natal deles só pra comemorar ao mesmo tempo que o nosso! :D

Mesmo assim comemorarei na meia noite e no almoço, porque sou o maior entusiasta do natal, mas ninguém sabia disso. Até agora. E por isso perco o medo de parecer repetitivo para mais uma vez, desejar feliz natal a todos os que estiverem lendo o blog (e aqueles que não estiverem lendo também, embora receie que eles nunca saberão que desejei). MERRY CHRISTMAS!


Pissed Santa is back, baby!

PS: E se você acha que isso é o fim do espírito natalino no blog, mal pode esperar pela minha postagem sentimental sobre o fim das aulas e o épico momento em que ganhei o terceiro lugar num concurso de Christmas Carols cantando com o pessoal da sala com os dentes pretos.

PS2: Um jabá rápido, mas muito importante, para o épico S.A. Cast especial de natal, o podcast do Seriadores Anônimos que, entre outras delícias, tem o já tradicional e milenar amigo secreto do pessoal, um solo de Erika Ribeiro cantando "Então é Natal", a equipe do site (eu incluso) arrasando no "Jingle Bells" com sabor brasileiro e uma tradução simultânea de "Silent Night", agora conhecida como "Noite Calada".

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Pissed Santa!

Pissed: furioso, bêbado, de saco cheio (pissed off) ou numa tradução mais literal, mijado.

Santa Claus: o bom velhinho Papai Noel, motivo de admiração até uma certa idade e decepção após a descoberta de sua não-existência. Eu particularmente nunca acreditei nele... Até conhecê-lo, é claro!


Fábio, amigo do Fábio, Renata, eu, Carol, Rafa e Catie

Apresentados os principais elementos desse lindo conto de terror natalino, vamos ao acontecido! Como eu já devo ter contado aqui (e se não contei, me desculpem), australianos são muito ligados em fantasias, de forma que na época do halloween foi um verdadeiro desfile de bizarrices dia e noite pela rua, desde pessoas com roupas normais carregando foices da Dona Morte até um Coringa perfeitamente maquiado. Pensando bem, eu não devo ter contado nada disso, mas tenham em mente que foi um show de horrores sem tamanho transitar pelas ruas e trens (é possível transitar por trens? Eu acho que sim!) de Sydney em companhia desses indivíduos repletos de criatividade. E eu falo show de horrores no melhor sentido da expressão!

Divagações à parte, não é de halloween que quero falar, mas sim das festinhas de natal que, apesar de uma variedade menor, também se diferenciam das nossas por dar a chance das pessoas andarem por aí vestidas de elfos, papais e mamães noéis, árvores de natal, bebês gigantes (WHAT?) e por aí vai. A festa da minha escola, no The Gaff (um local que vocês ainda ouvirão falar se um dia eu tiver a paciência de escrever o meu ansiado guia de baladas de Sydney), foi nesse estilo e deu até prêmios para as fantasias mais criativas. Por ser também um dia de balada normal no The Gaff, a 15 dias do natal em si, também deu muita gente sem fantasia e sem ideia do que estávamos fazendo lá com nossos personagens natalinos. Mas eis que na volta da festa, encontramos uma figura que nos deu a certeza de que o espírito de natal estava ao nosso lado... PISSED SANTA!

Martin, avulsa da rua, Renata, Carol, Pissed Santa, eu, Vinícius, Josi e mendigo amigo de Pissed Santa!

Pissed Santa, como vocês podem ver, é esse adorável velhinho mijado que aparece sorridente em nossas fotos. Ele está sempre ostentando esse charme natalino nos banquinhos da Oxford Street e foi muito simpático quando pedimos, sem sequer perceber seu atual estado urinário, para capturar esse momento mágico com ele. O problema foi quando Josi, a dona do gorrinho de papai noel, tentou pegar de volta o que era seu. Pissed Santa ficou PISSED em todos os sentidos, voou em cima de Josi para bater nela por tentar pegar de volta algo que em sua cabeça obviamente é seu, gritando "DON'T TELL ME LIES!". O resto de nós nem conseguiu reagir porque, francamente, quem esperaria uma atitude dessas do bom velhinho?


Carol, Tore, Hi, Stefan, Rê, eu e Katie na pré-party

Para a nossa sorte (da Josi, principalmente), a polícia brotou para resolver a situação, como sempre brota por aqui. Encantadas com o policial, as meninas não quiseram nem saber de recuperar o gorrinho de Pissed Santa, apenas disseram que estava tudo bem e pediram uma foto com nosso salvador. O resultado, vocês conferem aqui.


Eu, Renata, Mr. Policeman, Josi e Carol!

A lição que fica disso tudo é: não abordem velhinhos bêbados e mijados na rua. Se abordarem, não tentem pegar o gorrinho de volta! Feliz natal, everyone!

domingo, 12 de dezembro de 2010

Living The Good Life

Tenho muito (muito mesmo) pra contar no blog, receio até que posso esquecer algumas coisas antes de ter tempo ou paciência pra contar todas, mas prometo fazer o possível. Por hoje, estou só dando uma passadinha pra mostrar, ao invés de contar, como tem sido a viagem até então. Minhas habilidades de edição de vídeo estão um pouco enferrujadas, então perdoem qualquer errinho. Para os que tiverem a coragem de dar o play, let's live the good life!


domingo, 5 de dezembro de 2010

Kangaroos, flying foxes and feeling different

Nada como fazer coisas diferentes pra se sentir diferente. Depois do meu papo sobre viagem se tornar rotina depois de um mês, percebi cada vez mais aquele sentimento de descoberta e novidade se perdendo, mas com uma simples conversa com meus sábios pais, percebi que não era a cidade e nem a rotina que estava limitando nada disso. Era eu.

Com isso em mente, arregacei as mangas e fui atrás do símbolo-mor da Austrália, aquilo que todos acham que pulula de um lado para o outro nas ruas (e em alguns lugares é até verdade), mas que cometi o sacrilégio de ficar 2 meses aqui e não conhecer: cangurus! E devo dizer que conheci tantos diferentes que fiquei até atordoado, do mais bonitinho, ostentando orgulhosamente o filhote na bolsinha, até os mais acabados e fedorentos, passando até mesmo por um canguru albino (mas não vesgo).

Vi, toquei, cheirei (não tinha muita opção), alimentei e tirei milhões de fotos, porque afinal já me sinto na rotina, mas sou turista e preciso me comportar como tal. Pra quem quiser a dica de um lugar realmente muito bacana pra interagir com os animais dessa forma, o zoológico é o Featherdale Wildlife Park, um pouco distante da City (1 hora de trem), mas uma experiência que vale muito a pena!


Leo, Aki, Tamara e eu nos preparando pra conhecer a canguruzada

Já ouvi muitos comentários revoltados de pessoas sobre o Taronga Zoo, que é um zoológico mais tradicional (mas que farei questão de ir mesmo assim) e cobra fortunas pra tirar foto com os bichinhos. Em Featherdale não: os cangurus estão lá passeando nos seus pés, as emas podem te bicar a qualquer minuto e os coalas se enroscam, fazem gracinhas e até mesmo posições comprometedoras a poucos centímetros de vocês. Pavões pulam de suas jaulas e direção a você, o diabo da Tasmânia faz suas frenéticas voltas no melhor estilo Taz e os pinguins te fazem inveja mergulhando no laguinho para se refrescar com a maior pose. E a  variedade nem acaba por aí, já que tem raposas voadoras (ME-DO!), aves que nunca imagine iexistirem na vida e, só para dar aquele clima de fazenda, ovelhas, bodes e galinhas!


Raposas voadoras! *BOOM*

Aki e eu tentando manter o Jeff acordado

Jeff não me dando a mínima

Patos e galinhas, homenageando Friends!

Jack arrasando no carão!

Mas o mais bizarro mesmo é ver a atenção que as pessoas dão ao Dingo, uma sub-espécie de lobo que não vive em grupos (ou seja, o verdadeiro lobo solitário) e que tem até livros de suspense sobre ele sendo vendidos na lojinha de presentes, quando na verdade não parece nada mais do que um cachorro normal. Quer dizer, raposas voadoras passam despercebidas porque são muito comuns, e um cachorro chama toda a atenção! Mais uma coisa pra lá de diferente na Austrália. Mais um motivo pra reacender o meu sentimento de descoberta e novidade. E viva a vida selvagem!


Coalas chocando a comunidade cristã (clique, amplie e se choque você também!)

PS: mais um batalhão de fotos, inclusive do cachorro-Dingo e do canguru albino após o break!

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

It`s always rainy in Sydney city ou: chove chuva, chove sem parar

Verões escaldantes de 40 graus, sol sete dias por semana, 24 horas por dia. Foi com essa (des)propaganda que estabeleci minhas expectativas para Sydney. Despropaganda pra mim, que mesmo reclamando do frio, tambem não sou um grande fã do sol fritando minhas ideias. Ironicamente, estava entre a Australia e o Canadá e descartei o último justamente por achar que seria frio demais. Fazer o que? Sou contraditório até o último fio de cabelo. É o meu jeitinho.

Pois bem, esqueçam a frase que abre o post, porque a julgar pelos últimos dias, Sydney não é nada disso. Pelo menos não agora. Pelo menos não comigo aqui, já que preciso de um clima contraditório para continuar me contradizendo dia após dia. Segundo os australianos, esse é o ano em que a Australia teve mais água depois de 11 anos de seca. 11 anos! Uma chuvinha aqui, outra ali, mas no geral os australianos não tinham um longo periodo de chuva há 11 anos. E eu reclamando quando Brasília fica seus 3, 4 meses sem chuva. Pelo visto aqui não tenho do que reclamar, mas provavelmente vou... Sou contraditório, lembra?

Fato é que adoro chuva. Não o tempo inteiro, nem quando ela prejudica meus planos de sair para programas que não envolvem apreciar a chuva, o que pode ser grande parte do tempo, mais uma vez me contradizendo... Mas de verdade, eu adoro chuva. Adoro o cheiro que ela deixa no ar, a cor que o dia adquire e principalmente, os momentos que divido com meu edredom, entre pequenos cochilos e grandes conversas (não com o meu edredom, comigo mesmo, mas ele esta lá acompanhando tudo de perto). Aqui eu não tenho meu edredom e raramente tiro cochilos durante a chuva, já que é muito mais facil reclamar dela enquanto está acontecendo, só pra acentuar a contradição.

Uma das coisas mais interessantes da chuva, dentre muitas coisas interessantes que eu poderia passar horas discorrendo, são os guarda-chuvas. Calma, eu não vou começar uma reflexão sem propósito sobre o porquê dos guarda-chuvas se chamarem "guarda-chuvas", quando provavelmente a última coisa que você espera ao usá-los é guardar a chuva, muito pelo contrário. Bem que eu gostaria de refletir sobre isso, e bem que eu gostaria de poder de guardar a chuva (talvez para usá-la no dia em que quisesse tirar um cochilo e ter uma conversa comigo mesmo?), mas não vou e não posso.

Quatro parágrafos depois, estou pronto pra fazer o link entre a chuva, os guarda-chuvas e Sydney. Sim, eu ainda lembro que esse é um blog sobre a Austrália, não sobre chuva e formas de guardá-la. Mas o intuito desse texto, cochilos no edredom e conversas comigo mesmo à parte, são os guarda-chuvas de Sydney. É impressionante caminhar pela cidade e observar a variedade deles: pequenos, médios e gigantes; listrados, texturizados, lisos; sóbrios, espalhafatosos, elegantes; coloridos, cinzentos; com estampa de peixinhos, frutas, letras. Australiano não tem medo de parecer ridículo, ousa não so nas roupas e acessórios como também nos guarda-chuvas. Essa manhã, por exemplo, vi um homem indo para o trabalho em seu tradicional-não-ousado-e-nem-ridículo terno, mas com um enorme guarda-chuva amarelo cana.

Para não ser injusto ou parcial com a verdade, aviso que no verão de Sydney (ou mais especificamente, nesse verão de Sydney, com chuva e pessoas contraditórias) também faz calor, muito calor. Nada comparado a Salvador, São Luis ou, o extremo dos extremos, Petrolina. Mas faz calor, sim. Só que calor com chuva! Ontem e hoje, no entanto, foi frio com chuva. Meu bom amigo Google me informa que no momento em que escrevo, são 17 graus, em pleno meio dia. Já os meus olhos dizem que esses 19 graus estão acompanhados de muita, muita chuva. A propósito, comprei um guarda-chuva essa manhã, depois de muito relutar e me convencer que não precisava, porque estou em Sydney, e Sydney é um lugar seco e sem chuva. Mas uma hora eu tinha que admitir a verdade, e por isso o comprei. 5 dólares, pretinho basico, nada muito ousado, porque eu precisava guardar a chuva logo e não tinha tempo (ou dólares) pra pensar em ousadias. Quem sabe nas próximas chuvas? Oportunidades não vão faltar.